Desde muito cedo teve que aprender a conviver coma ausência de seu pai, foram tantas as vezes que ele foi e voltou em sua vida, que ela nem percebeu quando ele partiu de vez.
Lembra sim, da primeira vez que ele se foi. Era muito pequena, deveria ter uns seis anos. Não sabia muito o que estava acontecendo. Só sabia que seu pai não morava mais em casa e ela não tinha a mínima idéia do que era de suas vidas (a do seu pai e a dela). Lembra que tinha um medo muito grande que ele a esquecesse.
Nessa época, por coincidência ou sei lá o quê, a música que tocava em todas as rádios, era o grande sucesso do Rei Roberto ‘Não se esqueça de mim’. A menina não podia ouvir a música, lhe doía fundo a alma. Na sua meninice, cantava para o seu pai: eu quero apenas estar em seu pensamento, por um momento pensar que você pensa em mim, onde você estiver... Mas seu pai não escutava. Chorava a menina, em vão. Essa música lhe acompanha até hoje, mas a menina não chora mais. Apesar de lhe comover a imagem dela cantando para o seu pai.
Pergunta-se e sempre se perguntou o porquê de tanta fuga. Será que a fome de viver e de ser livre de seu pai, era mais importante do que qualquer outra coisa em sua vida? Seria medo de ser amado?
Talvez fosse isso, seu pai não estava acostumado a tanto amor. Nem mesmo um amor puro como o dela. Ser amado, para ele, era experimentar uma dor muito grande. Ele não suportava. E por amor, a menina, foi deixando de amá-lo. No lugar desse amor, existe um vazio imenso. O vazio das lembranças de tudo o que poderia ter sido e não foi. O passeio de mãos dadas, a festa no dia dos pais na escola, o beijo na hora de ir dormir, as noites de febre, o livro que não foi lido...
Mas a vida sempre nos concede o reencontro. Nesse re-encontro, apesar do tempo trocar os papéis e a menina ser mãe e não mais filha, ela se permite saber quem é esse homem que ela chama de pai. Assim que, uma vez por semana, ela o visita e pede para que ele conte sua história, e a menina feliz, grava tudo em seu gravador e em sua alma.
Que linda a alma de menina feito palavra de gente grande...já tô apaixonada!
ResponderExcluiramiga,
ResponderExcluirvindo de vc esse elogio, sinto até vontade de escrever mais. Pois vc sabe o quanto que é minha escritora preferida.