domingo, 13 de setembro de 2009

Tempo ao revés

Caminhavam as duas felizes em direção ao afeto, ao carinho, aos sonhos compartilhados. Iam ao encontro do avô. Brincar em sua sala, ouvir histórias sobre o tempo do amor, da partilha, das mãos estendidas. Como ansiaram por esse dia. Dia de ser feliz...

Eram muito pequenas, as duas, viviam no mundo da inocência. Ainda não conheciam a dor, a quebra, as mãos cerradas. Viver era só festa, só encontro... Que felicidade era o existir...

Chegando ao destino, não encontraram o avô. Encontraram bem no meio do tempo, uma porta gigantesca, fechada. Uma porta do não tempo, do tempo do não existir, do tempo ao revés. Um pavor imenso inundou seus corações. Que imensa era aquela porta! Que imenso era aquele não! Abraçadas choraram o medo do não existir.
Mas o tempo do não se fazer era implacável, passou como um furacão e levou as meninas. Levou numa volta ao tempo, no tempo do ventre de suas mães... E mais além, no tempo de suas mães meninas, iguais a elas, com o mesmo pavor nos olhos. O pavor de se saberem sós, presas a um não tempo, a um não existir. Onde estaria ele, o avô-pai? Onde? Onde estavam suas mãos que não conseguiam segurá-las, que não as vinham socorrer, sacá-las desse não existir? Estavam-se indo. Perdendo-se no revés do tempo.

Sabiam-se presas na memória futura de um rapaz, que neste tempo presente, estava imerso em sua dor do existir. Elas e ele presos na mesma memória, cada qual em seu tempo. Ele sonhava com elas, mas não entendia que elas eram reais. Eram a sua vida, que ele agora negava. Mas ele não entendia que elas poderiam sim, romper esse tempo do não existir e vir a ser o que se é. Bastaria um gesto dele, um simples estender de mãos... Insistia ele, em sua dor, sem saber que o existir delas dependia de sua coragem de fazê-las reais.

Elas gritavam , mas ele não escutava, estava paralisado no tempo. E elas sabiam que poderiam ficar para sempre presas a essa possibilidade de existir. Choravam, suas lágrimas se misturavam com as dele, seus gritos de dor é a dor que ele sente cravada em seu peito. A dor de não poder existir...

2 comentários:

  1. POxa cara,adorei! LEmbrei de tantas coisas.
    Beijao lindona.Saudades de ti aqui em Buenos Aires.
    Marcelle Naike

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  2. oi amiga,

    Obrigada!!!! Estou aqui em Buenos Aires... beijos

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