Tenho um amigo poeta que está treinando pra ser formiga. Isso é imenso. Esse mesmo amigo, em seu treinamento, escreveu “In memorian de menina”, e eu tive a coragem de ler. Falo coragem, porque o que está escrito ali é muito mais que um texto poético, é vida. Vida levada até suas últimas conseqüências e, para ler é preciso “abrir o peito e sacar a alma”. Saber que a partir dali teus olhos nunca mais olharão da maneira que olharam antes e tua alma nunca mais sentirá como sentiu antes, pois com suas palavras, ele te despe de tudo o que um dia fôra construído para se vestir.
E nua, não me restou outra coisa a fazer, a não ser chorar. Chorar por sentir a imensidão da vida, por existir, por me saber mulher e saber que carrego em mim a vida de todas as mulheres que um dia passaram e passarão pela mãe Terra. Por saber da sina de ser mulher de um homem. Por saber-me mãe de duas meninas e de tudo o que isso representa. Sinto uma vontade muito grande de gritar, de dançar descalça, de correr... Correr, correr e só parar quando alcance novamente minha alma, quando a tenha em minhas mãos e, aninhada em meus braços como um dia estiveram meus filhos, diga bem baixinho em seu ouvido: tranqüila, isso é ser mulher...
Mas agora minha alma “mora ali, no infinito - lugar mais perto do coração”.